Bahia registra 97 feminicídios entre janeiro e início de dezembro de 2025; conheça perfil das vítimas

  • 14/12/2025
(Foto: Reprodução)
O que é feminicídio? A Bahia registrou 97 feminicídios entre janeiro e 8 de dezembro de 2025, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). O levantamento mostra que o crime, tipificado como homicídio motivado pela condição de gênero da vítima, permaneceu disseminado em diferentes regiões do estado ao longo do ano. Entre as 10 cidades baianas que mais registraram feminicídios, Salvador lidera a lista com 10 ocorrências no período. Em seguida estão Feira de Santana, com cinco casos, e Camaçari, com quatro. Um dos casos mais recentes foi na noite de 6 de dezembro, em Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado. O motorista por aplicativo Sérgio Henrique Lima dos Santos, de 19 anos, matou com o golpe "mata-leão" a jovem Rhianna Alves, mulher trans, de 18 anos. 📲 Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Bahia O crime ganhou repercussão nacional porque o suspeito levou o corpo à delegacia e foi liberado após dizer que agiu em legítima defesa. Ele foi preso e indiciado quatro dias depois. Motorista por aplicativo confessou ter matado mulher trans em Luís Eduardo Magalhães Reprodução/Redes Sociais | Arte g1 Perfil das vítimas A análise do perfil das vítimas mostra que a faixa etária entre 30 e 34 anos concentra o maior número de registros, representando 16,5% do total. Logo depois aparecem as faixas de 35 a 39 anos e 40 a 44 anos, ambas com 15,5%. Os números apontam maior vulnerabilidade entre mulheres adultas. 'Baralho Lilás': Governo da Bahia lança catálogo com foragidos por violência contra a mulher Os dados também revelam que mulheres pardas representam 61,86% das vítimas, enquanto 14,46% são mulheres pretas e 4,12%, brancas. Registros envolvendo mulheres indígenas correspondem a 1,03% dos casos. Em 18,56% das notificações, não há informação sobre cor ou raça. Vidas em risco o ano inteiro Jaqueline Vieira Moura foi encontrada morta com sinais de estrangulamento em Salvador Reprodução/Redes Sociais O número de feminicídios ao longo dos meses evidencia poucas oscilações durante o ano de 2025. Abril foi o mês mais letal, com 13 feminicídios. No mês em questão, Jaqueline Vieira Moura, uma mulher de 43 anos, foi encontrada morta com sinais de estrangulamento, no Bairro da Paz, em Salvador. Segundo informações da Polícia Civil, o namorado dela era o principal suspeito do crime. Ele foi agredido pela população e chegou a ser socorrido para uma unidade de saúde, mas não resistiu aos ferimentos. Vítima foi identificada como Iane de Jesus Branco, de 26 anos Arquivo pessoal No mês de novembro — período em que 12 casos foram registrados —, a jovem Iane de Jesus Branco, de 26 anos, foi morta a golpes de blocos de cerâmica na frente do filho, uma criança de 4 anos. O crime ocorreu dentro da casa da vítima, na cidade de Santana, no oeste da Bahia. Mais uma vez, o principal suspeito do crime era o companheiro da mulher. Ele foi preso. Antes disso, em fevereiro, outro feminicídio: Terezinha Pires dos Santos, de 43 anos, foi morta com um tiro no pescoço, na cidade de Santa Maria da Vitória, no oeste da Bahia. Vítima foi identificada como Terezinha Pires dos Santos Reprodução/Redes Sociais Ao lado do corpo, seminu, foi deixado um bilhete com ofensas: "Meu bem, vai trair o capeta, o satanás e o demônio, sua desgraçada. Nunca mais você me deixa no vácuo. Ingrata". Também nesse caso, o companheiro da vítima era o principal suspeito de cometer o crime. Construções culturais e masculinidades Campanha contra o feminicídio começa neste sábado Divulgação/Redes Sociais A psicológa e professora no Departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Darlane Andrade, ressalta que os fatores emocionais que mantêm mulheres presas ao ciclo da violência não podem ser compreendidos de forma isolada. A especialista aponta que ainda prevalecem padrões de relacionamento, baseados na monogamia, na heteronormatividade e em um modelo que coloca a mulher em posição de subordinação ao parceiro. Segundo ela, os padrões estão diretamente vinculados a elementos históricos, sociais e culturais que moldam a forma como se vivencia o amor e as relações afetivas. “Esse amor e a necessidade de ser validada pelo outro, acaba sendo muitas vezes o motivo que leva as mulheres a permanecer em relações afetivas, mesmo quando violentas”, pontua Darlane. A professora destaca ainda que os principais agressores são homens próximos à vítima: companheiros, ex-companheiros, pais, tios e outros familiares, afetando mulheres de todas as idades, incluindo crianças, adolescentes e idosas. Para ela, esse cenário revela como determinadas construções de masculinidade contribuem para a manutenção da violência na sociedade. "O feminicídio é o ápice das violências de gênero contra as mulheres, que inclui mulheres trans também, e a gente vê como a transfobia está sendo expressa. Essa violência expressa toda a cultura machista, conservadora e misógina que traz o ódio às mulheres como sua base". Dependência emocional como barreira para reconhecer abusos Ao g1, a psicóloga e mestra em gênero Ilana Marques acrescenta que muitas mulheres permanecem em relações abusivas ou demoram a identificar o problema porque foram socializadas a acreditar que sua validação como pessoa depende da presença de um parceiro. Segundo ela, esse entendimento limita a busca por apoio emocional e até mesmo o acesso à terapia, já que, em muitos casos, a desigualdade dentro do relacionamento sequer é percebida como um problema que merece ser discutido. Ilana explicou que relações abusivas costumam se estruturar na lógica de que uma pessoa vale mais e a outra vale menos. Para a psicóloga, essa dinâmica psicológica é um dos pilares que sustentam ciclos de abuso e afastam vítimas de caminhos de proteção. "Quando a mulher é levada a acreditar que ocupa essa posição inferior, tende a perder a percepção de igualdade, o que dificulta questionar comportamentos, reclamar de violências ou se posicionar diante do companheiro". Quanto às estratégias de enfrentamento, Ilana reconhece que romper vínculos abusivos exige ações combinadas no campo psicológico e social. Por isso, ela defende que o primeiro passo é fortalecer a compreensão de que as mulheres são “sujeitas de si próprias”: autônomas, válidas, independentes e plenamente capacitadas para conduzir sua própria vida. Para que isso seja possível, é indispensável garantir autonomia financeira, bem-estar social e redes de apoio consistentes, reduzindo a dependência afetiva e material em relação ao agressor. Casos de feminicídio em Salvador Em entrevista ao g1, a secretária municipal de Política para Mulheres, Infância e Juventude de Salvador, Fernanda Lordêlo, ponderou que o número absoluto de feminicídios registrados na capital precisa ser analisado considerando a dimensão populacional da cidade, que concentra mais de 2,5 milhões de habitantes. Ela afirma que a maior densidade populacional tende a refletir em números mais elevados, mas isso não significa que a capital seja, proporcionalmente, o local onde mulheres enfrentam maior risco. Apesar disso, a secretária defende que a capital conseguiu reduzir os casos nos últimos anos: foram 20 feminicídios em 2023, nove em 2024 e dez em 2025, até o início de dezembro. Segundo Lordêlo, todas as vítimas registradas em 2025 nunca haviam procurado a rede de proteção, nem solicitado medidas protetivas. Para ela, esse dado acende um alerta sobre a importância de as mulheres não subestimarem episódios de violência doméstica. Rede de acolhimento em Salvador Nesse sentido, a secretária reforça que Salvador conta com três Centros de Referência e Atenção à Mulher, que oferecem atendimento multidisciplinar, além da Patrulha Guardiã Maria da Penha e do Botão Lilás para acionamento emergencial. A gestão municipal também mantém uma atuação conjunta com órgãos como Ministério Público, Tribunal de Justiça, Defensoria, Polícia Militar, Guarda Civil e Delegacias Especializadas, além de empresas e estabelecimentos comerciais certificados em programas municipais de enfrentamento à violência. O objetivo, segundo Fernanda Lordêlo, é assegurar que nenhuma mulher fique desassistida e que a proteção seja construída de forma contínua e coordenada. Governo da Bahia anuncia "baralho lilás" em combate a violência contra mulher Veja mais notícias do estado no g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2025/12/14/casos-de-feminicidio-na-bahia-em-2025.ghtml


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